4.ª Companhia de Caçadores Especiais - 4 CCE
Angola, 1960-1962


"Operação Cassange"
-  o alegado uso de "napalm" pela FAP



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Revista Porto v2 n3, 2013
ISSN 2237-8510



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Pedro Pereira Mateus
Nascido em 1972, cursou economia, foi consultor e tradutor técnico, e é actualmente um profissional na área de Operações e Sistemas e Tecnologias de Informação e na coordenação das equipas e projectos a tal afectos.

Com um passado nas "malhas" da Internet que remonta a 1990 (antes da existência da própria World Wide Web) é um apaixonado pelas novas tecnologias e pelo seu papel na difusão da informação.

É praticante de tiro desportivo de precisão, de pistola e carabina, desde 1999, tendo recebido, em 2010, o título de "Mestre Atirador" por parte da Federação Portuguesa de Tiro.

Desde muito jovem um entusiasta da História e Tecnologia Militar, os laços paternais levam-no a comungar uma forte paixão por África e o desejo de participar na investigação e recolha histórica sobre o período da dita "Guerra do Ultramar".

É, desde 1996, co-autor (e fundador) do site www.4cce.org , dedicado à investigação histórica da 4.a Companhia de Caçadores Especiais, Angola 1960-62.

 

Artigo in Revista Porto v.2, n. 3 de 2013
“A Baixa de Cassange: o prenúncio da luta armada”
– o alegado uso de “napalm” pela FAP


Por Pedro Pereira Mateus
Fevereiro de 2016


Num artigo assinado por Anabela Silveira, doutorada em História pela Universidade do Porto e investigadora no Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa, ISSN 2237-8510, “A Baixa de Cassange: o prenúncio da luta armada”, in Revista Porto, n. 03 de 2013, p.39 -57, é referida, nas passagens abaixo destacadas, a alegada utilização de “napalm” por parte da Força Aérea Portuguesa (FAP) no decurso da “Operação Cassange”, que teve lugar no Norte de Angola de 5 de Fevereiro a 19 Março de 1961.  

“(…) Se nos dias 4 e 5 de fevereiro [ de 1961] a repressão esteve entregue à 3a Companhia de Caçadores Especiais, a que prontamente se juntaria a 4a Companhia proveniente de Luanda, a partir do dia 6, as forças terrestres contavam com o apoio da Força Aérea que, utilizando bombas de napalm, descarregava não só sobre as sanzalas insurrectas como também sobre as populações em fuga. (…)”

“(…) O impacto das duas Companhias de Caçadores Especiais e da Força Aérea foi enorme na Baixa de Cassange. Face à densidade florestal da região, a Força Aérea utilizou bombas de napalm lançadas a partir dos PV Harpon, que mais não eram do que aviões de luta anti-submarina adaptados a ataques a solo. Mário Moutinho de Pádua, de uma forma muito crua, descreve a repressão que teve lugar durante o mês de fevereiro.

Sempre é verdade que, perto de Malange, na Baixa de Cassange, mataram grevistas, enterrando-os até ao pescoço e passando depois por cima com os tractores. Os mortos, por vezes acumulam-se nas aldeias em grandes quantidades [e] a Força Aérea inventa, infelizmente, expedientes para reunir os pretos. De uma vez espalhou panfletos nacionalistas ou forjados, pintou um avião com caracteres rebeldes e quando viu os homens juntos, lançou-lhes bombas de napalm da NATO. (…)”


Revista Porto v2 n3, 2013 ISSN 2237-8510, pág.ª 49

A passagem final, citada pela autora, atribuída a Mário Moutinho de Pádua, é referenciada em nota de pé de página desse mesmo artigo, com o número 30, e corresponde a: “PÁDUA, Mário Moutinho de. Guerra em Angola: diário de um médico em campanha. São Paulo: Editora Brasiliense, 1963. p. 78-79.”

Este autor, enquanto oficial do Exército Português (alferes miliciano), que viria a desertar para o Congo em Outubro de 1961, foi mobilizado, médico recém-formado em Coimbra, para prestar serviço militar em Angola, enquadrado nos efectivos do Batalhão de Caçadores n.º 88 [1] . Esta unidade recebeu, a 14 de Abril de 1961, ordem para embarcar de Lisboa para tal província ultramarina, a bordo do Niassa, paquete fretado pelo Ministério do Exército [2] à Companhia Nacional de Navegação. A partida deste navio teria lugar apenas a 22 de Abril de 1961, chegando à cidade de Luanda a 1 de Maio de 1961 [3]. Ou seja, o autor apenas chega a Angola mais de 1 mês depois (!) de já terminada a “Operação Cassange” a que se refere na passagem citada.

 

 

 

Fontes:

[1] “No Percurso das Guerras Coloniais 1961-1969”, Mário Moutinho de Pádua, 2011, Edições Avante, ISBN: 9789725503966, pág.ª 15

[2] Portaria n.º 18298 de 4 de Março de 1961

[3] “A Cronologia da Guerra Colonial, Angola - Guiné - Moçambique 1961-1974”, José Brandão, 2008, Prefácio, ISBN: 9789898022844




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