4.ª Companhia de Caçadores Especiais - 4 CCE
Angola, 1960-1962


"Operação Cassange"
- Relatos, fotos, mapas, diagramas e relatórios operacionais da 4CCE

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Cedido por Teixeira de Morais para investigação ao ICT/CEAA
  Transcrição integral de documento cedido para investigação ao IICT/CEAA pelo Cmdte da 4CCE, Teixeira de Morais, referente ao Anexo ao Relatório de Operações n.º 14 do Batalhão Eventual - 4CCE

"(...)
BATALHÃO EVENTUAL
4.ª COMPANHIA DE CAÇADORES ESPECIAIS
Anexo ao Relatório de Operações n.º 14
Auto de queixa

Aos vinte e cinco dias do mês de fevereiro do ano de mil novecentos e sessenta e um, nesta povoação de Milando, foram presentes perante mim, Luis Artur Carvalho Teixeira de Morais, capitão de Infantaria, comandante da quarta Companhia de Caçadores Especiais, os sobas desta região TACA, QUIVOTA, MILANDO, QUIBUNDA,com os seus sobetas, que me apresentaram as seguintes queixas, por intermédio de três intérpretes, que vão servir de testemunhas igualmente: senhor António José Nunes Frade, guia e intérprete da Companhia, e os indígenas José Jacob do Milando e Pedro Francisco do soba Camba:

1.º)
Que há cerca de quatro anos apareceu aqui na povoação um branco enviado pelo Governo que os interrogou perante os cipaios das razões de queixa contra a Cotonang e que lhes tinham contado a verdade e apresentado as suas queixas. Tempos depois e logo que esse branco se retirou, começaram as represálias pelos cipaios, tendo declarado o soba
MILANDO velho, soba GANGAMUCHECA e soba VOTA, que tinham procurado ir a Malange, apresentar queixa ao senhor Governador. Como não o tivessem conseguido, andaram todo esse tempo escondidos no mato, só aparecendo hoje porque sabiam que o Exército estava aqui.

2.°)
Que na altura das colheitas, os capatazes, no caso de encontrarem os campos atrasados ou sujos, batiam-lhes ou transformavam o castigo em multas.

3.°)
Que na altura do mercado eram roubados no peso, pagando-lhes pouco e sendo-lhes exigido pelos cipaios, capitas e capatazes "saguates" que oscilavam por sessenta escudos.

4.°)
Que os obrigavam a pagar multas de queimadas, licenças de uso de armas de fôgo e de sais e que cada casal tinha de pagar dez escudos por ano, de licença por uso de mulher, mas que só das duas primeiras lhes eram passados recibos.

5.°)
Que quando alguém era prêso, tinha a pagar vinte e cinco escudos para entrar na cadeia, cento e cinquenta escudos para poder ir à retrete e sessenta escudos para não serem espancados pelos cipaios ou capitas, quando os escoltavam aos trabalhos.

6.°)
Que o pessoal nomeado semanalmente para os trabalhos no posto tinha ainda a pagar dez escudos cada um e vinte e cinco tostões quando acabavam o trabalho.

7.°)
Pedem a substituição do Chefe de Posto e do agente da Cotonang de quem não gostam e que não fôssemos embora, porque estavam com mêdo das represálias depois .

8.°)
Declararam depois perante os seus povos que reuni, que os homens que vieram do Congo foram bem aceites por êles aqui, porque viram na sua doutrina uma esperança de justiça e de salvação, pondo termo à escravatura e à exploração a que estavam subordinados.


O Comt. Comp.,
Os Intérpretes,
Os Sobas declarantes,


* Este documento contém assinaturas do Comandante e dos intérpretes e impressões digitais dos quatro sobas declarantes e foi-nos cedido pelo Major Luís A. Teixeira de Morais, a quem agradecemos.

(...)"




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